A ILHA DE CORAL
A Otávio Ottoni
Rolam no mar do Tempo anos, séculos, eras;
extinguem-se os vulcões, rompem novas crateras,
e extinguem-se a seu turno; elevam-se cidades
das ruínas, o altar das velhas divindades
é derrocado, e surge um novo culto; em suma,
a vida universal vai num batel de espuma
os seres levantando e os seres submergindo.
Mas no fundo do mar, num sonho eterno, infindo,
o paciente pólipo, o artífice fecundo,
erige lentamente a construção de um mundo.
É lá na solidão da submarina rocha,
entre o salso juncal, que o germe desabrocha
da vida elementar sob a imperfeita forma;
e eis que aos poucos se estende e aos poucos se transforma.
A princípio é um arbusto, após árvore grande,
mais tarde uma floresta imensa que se expande,
germina e reproduz outras tantas, e destas
irrompem triunfais camadas de florestas.
E dos turvos pegões, rasgando a úmida clâmide,
vem subindo, vermelha, a altíssima pirâmide...
Mais um século, e então converte-se em montanha;
mais uma noite, e o sol o píncaro lhe banha.
E pela vez primeira ostenta a rica flora,
e recebe o batismo esplêndido da aurora!
Augusto de Lima