POEMA XXXVI
Hei de amoldar-me a ti como o rio a seu leito,
como o mar a sua praia, como a espada a sua bainha.
Hei de correr em ti, hei de cantar em ti, hei de guardar-me em ti
de agora em diante.
Fora de ti há de me sobrar o mundo, como ao rio sobra
o ar, ao mar a terra, à espada a mesa do convite.
Dentro de ti não há de me faltar brancura do limo
para minha corrente, perfil de vento para minhas ondas, ajuste e
repouso para meu aço.
Dentro de ti está tudo; fora de ti não há nada.
Tudo o que tu és está em seu lugar, tudo o que não
sejas tu me
há de ser vão.
Caibo em ti, estou feita a tua medida; mas se for em mim onde
algo falte, cresço ... Se for em mim onde algo sobre,
corto.
Dulce María Loynaz de Castillo
Tradução de Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros