A MEIA ÁGUA DO SONHO
A meia água do sonho e sem saída
para a superfície iluminada,
te levarei, já em calma —perseguida—
longe do pensamento e da mirada.
Não há de cingir-te luz descomedida,
nem há de tocar-me a espinha 1 disfarçada,
nem flor de pranto, de fulgor vestida,
nem dano azul, nem afetiva espada.
Te levarei, dormida, na corrente
de meu sonho, e nele, serenamente,
te afastarás do sol e do ar amargo.
E sonho abaixo iremos companheira,
até a claridade da ribeira
onde repousa o mar do sonho largo.
Juan Guzmán Cruchaga
Tradução de Carlos Nejar e Juan Antonio Massone
1 Espinha ou espinho. Dicionário Houaiss, Ed. Objetiva, Rio, 2001